Por fim, um dia, Antunes veio parar Lisboa. Seu sogro era muito influente na política, e tinha sobre as ciências sociais e administrativas uma opinião sua, particularíssima, que dizia «bem alto, para que todos o ouvissem», em todas as solenidades públicas. Essa opinião entranhada era que «o Sr. Fontes é… Ler mais »Lisboa em Camisa — Gervásio Lobato
— A verdade, meus senhores, é que os estrangeiros invejam-nos… E o que vou a dizer não é para lisonjear a Vossas Senhorias: mas enquanto neste país houver sacerdotes respeitáveis como Vossas Senhorias, Portugal há-de manter com dignidade o seu lugar na Europa! Porque a fé, meus senhores, é a… Ler mais »O Crime do Padre Amaro — Eça de Queirós
— Gaitinhas: és meu amigo? — Sou, pois. Gineto sorriu. Nunca tivera um amigo assim. Os outros adulavam-no por medo, bem sabia. A não ser o Sagui, todos lhe queriam mal, embora o respeitassem. Gaitinhas tirou do bolso a gaita de beiços e pôs-se a tocar uma canção em voga,… Ler mais »Esteiros — Soeiro Pereira Gomes
Aquela conquista de fortuna, feita de relance, perturbava-o, desmerecia o brilho das suas riquezas, ajuntadas dia a dia na canseira do trabalho. A vida tem ironias: teria ele sido um tolo? Talvez, e para se certificar reviu a sua vida no Rio, desde simples caixeiro, quase analfabeto, com a cabeça… Ler mais »A Falência — Júlia Lopes de Almeida
A crise conjugal de Alfredo Galvão e Celina tinha amansado, e a moça parecia mais submissa depois da reconciliação, não sacudindo tanto a velha casa com as alternativas do seu gênio, conquanto a ambigüidade do olhar e do sorriso a mantivesse impenetrável, mesmo na temporada dessa calma aparente. Na realidade,… Ler mais »A Luta — Carmen Dolores
— Milho-rei! milho-rei! milho-rei! — rompeu de um lado uma voz, e esta tríplice exclamação tudo pôs em desordem; interrompeu o canto, e arrebatou Daniel à doce contemplação em que se deixara cair. Aquele grito partira de José das Dornas, que fora o primeiro a cujas mãos concedera a sorte,… Ler mais »As Pupilas do Senhor Reitor — Júlio Dinis
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já… Ler mais »Macunaíma — Mário de Andrade
— E onde achou este livro? — Onde? a meu lado, na vida. — Quem o compôs? — Arhat. — Pronunciando tal nome estremeceu como a um choque e atirou a pasta sobre a mesa, pondo-se a caminhar agitado, arrepelando-se. Ainda exalou: — Ninguém sabe! — Mas logo, serenando, sorriu,… Ler mais »Esfinge — Coelho Neto
Chove. Cada vez vejo mais turvo, cada vez tenho mais medo. Estamos enterrados em convenções até ao pescoço: usamos as mesmas palavras, fazemos os mesmos gestos. A poeira entranhada sufoca-nos. Pega-se. Adere. Há dias em que não distingo estes seres da minha própria alma; há dias em que através das… Ler mais »Húmus — Raul Brandão
Não se sabia bem onde nascera, mas não fora decerto em São Paulo, nem no Rio Grande do Sul, nem no Pará. Errava quem quisesse encontrar nele qualquer regionalismo; Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por esta ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo… Ler mais »Triste Fim de Policarpo Quaresma — Lima Barreto