— Acaso podereis satisfazer o desejo de estar dormindo muitos séculos, para depois acordar no mundo aperfeiçoado que foi prometido à humanidade?
— E por que não? disse o novo demónio, se o era, afagando vaidoso com o castão da bengala uma das nédias bochechas. — Bastará o vosso desejo, para que eu vos faça adormecer já, a fim de acordarem ambos no ANO TRÊS MIL.
Marta e Maurício olharam atónitos um para o outro.
— No ANO TRÊS MIL, repetiu Maurício, acrescentando, e nesse ano a semente da civilização lançada à terra no presente século dará os seus frutos?
— E nesse ano, notou Marta, estaremos juntos como agora, eu e Maurício?
— No ANO TRÊS MIL acordareis tão moços e namorados como estais, disse o génio do paletot, com o sorrir indiferente de um agiota que empresta a três por cento ao mês.
— Se assim é, interrompeu Maurício com exaltação, mostrai-nos esse futuro que nos anunciam tão esplêndido! Ao presente, em que tudo é luta e incerteza, não nos prende nenhuma consideração! Dormiremos enquanto o género humano caminha trabalhosamente por estradas apenas traçadas; dormiremos para só acordar ao cabo dessa longa viagem.
Título: O Que Há-de Ser o Mundo no Ano Três Mil
Título Original: Le Monde Tel Qu’il Sera
Autor: Émile Souvestre
Adaptação: Sebastião José Ribeiro de Sá
Data Original de Publicação: 1859-60
Data de Publicação do eBook: 2015
Capa: Ana Ferreira
Imagem da Capa: M. John Progrès, de Octave Penguilly L’Haridon
Revisão: Ricardo Lourenço
ISBN: 978-989-8698-44-5