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O Mandarim — Eça de Queirós

Clepsidra - Capa

Não lhe falarei, Teodoro, de outros gozos terrestres: como, por exemplo, o Teatro do Palais Royal, o baile Laborde, o Café Anglais… Só chamarei a sua atenção para este facto: existem seres que se chamam Mulheres — diferentes daqueles que conhece, e que se denominam Fêmeas. Estes seres, Teodoro, no meu tempo, a páginas 3 da Bíblia, apenas usavam exteriormente uma folha de vinha. Hoje, Teodoro, é toda uma sinfonia, todo um engenhoso e delicado poema de rendas, baptistes, cetins, flores, jóias, caxemiras, gazes e veludos… Compreende a satisfação inenarrável que haverá, para os cinco dedos de um cristão, em percorrer, palpar estas maravilhas macias; — mas também percebe que não é com o troco de uma placa honesta de cinco tostões que se pagam as contas destes querubins…Mas elas possuem melhor, Teodoro: são os cabelos cor do ouro ou cor da treva, tendo assim nas suas tranças a aparência emblemática das duas grandes tentações humanas — a fome do metal precioso e o conhecimento do absoluto transcendente. E ainda têm mais: são os braços cor de mármore, de uma frescura de lírio orvalhado; são os seios, sobre os quais o grande Praxíteles modelou a sua Taça, que é a linha mais pura e mais ideal da Antiguidade…

Título: O Mandarim
Autor: Eça de Queirós
Data Original de Publicação: 1880
Data de Publicação do eBook: 2014
Capa: Ana Ferreira
Imagem da Capa: Impassive Mask, de Raphael Kirchner
Revisão: Ricardo Barradas e Ricardo Lourenço
ISBN: 978-989-8698-23-0

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