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Às Mulheres Portuguesas — Ana de Castro Osório

O que entendo por — desenvolver livremente as qualidades afectivas na mulher — é deixar-lhe o pleno direito da escolha, o direito sagrado de amar ou não amar, de casar ou ficar solteira, sem que isso represente uma vergonha ou, pelo menos, um ridículo.


Entendo que o ser humano que pertence ao sexo feminino não deve ser coagido pela educação, nem pelos costumes, nem pelas conversas, nem pelos pais — que têm a mania de talhar muito discricionariamente o futuro dos filhos — a ver no casamento um fim, um ideal completo e único, quase uma obrigação.


Assim como o homem pode ser professor, jornalista, sábio, artista, empregado, operário, tudo enfim, sem que ninguém lhe pergunte pela certidão do matrimónio, sem embargo de serem quase todos chefes de família, não vejo inconveniente a que a mulher procure a sua colocação, tenha o seu curso científico, estude, trabalhe para si, para o seu futuro, para a sua vida autónoma, sem se lhe inquirir do seu estado


Que essa mulher fique solteira, porque não encontrou o companheiro ao qual lhe seria grato ligar o seu destino, ou que, encontrando-o, seja sentimentalmente feliz, que temos nós com isso?


Por acaso nos preocupa a vida conjugal do político A. ou do artista B.?


O maior erro do homem é, a meu ver, estar convencido de que a mulher nasce e existe só para o seu prazer e encanto. Partindo deste princípio, é claro que não nos encontraremos nunca, visto eu pensar de modo tão contrário.


A mulher, como o homem, nasce para si mesma. Tanto um como o outro fazem parte da sociedade, de que são factores igualmente imprescindíveis, que se não compreenderia nem sequer existiria sem a união dos dois sexos, mas na qual indivíduos isolados podem coexistir igualmente, decentes, honestos e respeitáveis — quando muito pagando maior contribuição, como querem alguns economistas franceses…

Título: Às Mulheres Portuguesas | Colecção Cenáculo, n.º 5
Autor: Ana de Castro Osório
Data Original de Publicação: 1905
Data de Publicação do eBook: 2022
Imagem da Capa: Cecília, de Henrique Pousão
Revisão: Cláudia Amorim e Ricardo Lourenço
ISBN: 978-989-8698-69-8
Texto-Fonte: Às Mulheres Portuguesas. Lisboa: Editora Viúva Tavares Cardoso, 1905.

1 comentário em “Às Mulheres Portuguesas — Ana de Castro Osório”

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