Filha de portugueses emigrados, Júlia Valentim da Silveira Lopes de Almeida (1862-1934) foi uma das escritoras mais prestigiadas da sua época. Colaborou em jornais de grande circulação, como O País e A Gazeta de Notícias, e em revistas femininas, entre as quais A Família e A Mensageira, tratando temas como a defesa dos direitos da mulher e a abolição da escravatura. Em 1886, acompanhou a família numa viagem a Lisboa e aí publicou o primeiro livro, Contos Infantis, em co-autoria com a irmã, Adelina Lopes Vieira, obra que viria a ser adoptada para uso nas escolas primárias brasileiras durante mais de vinte anos. No ano seguinte, ainda durante a sua estadia em Portugal, casou-se com o poeta Filinto de Almeida. De regresso ao Brasil, em 1888, estreou-se no romance com a publicação em folhetim de Memórias de Marta.
Reconhecida pela crítica, em especial após o lançamento de A Falência (1901), romance realista que é considerado a sua obra-prima, Júlia Lopes de Almeida escreveu também peças de teatro, obras didácticas e livros de viagem. Chegou a ser considerada para integrar o grupo de fundadores da Academia de Letras Brasileiras mas, apesar da sua vasta produção literária, acabou por ser excluída da lista final por ser mulher, restrição que, de resto, só terminaria em 1977, quando a academia abriu finalmente as portas a elementos femininos, admitindo Rachel de Queiroz.
Publicado no periódico A Semana, em 1894, «A Caolha» (conto seleccionado para a antologia Vozes Femininas) centra-se numa casa pobre dum bairro operário. Numa linguagem simples, em acordo com o contexto social descrito no conto, e sem recorrer a sentimentalismos, Júlia consegue despertar uma reacção emocional no leitor, descrevendo, com subtileza, as dificuldades que uma mãe pobre enfrenta, em especial quando o seu aspecto físico não encaixa nos padrões de beleza duma sociedade impiedosamente discriminatória.