Guiomar Delfina de Noronha Torresão (1844-1898) foi umas das primeiras mulheres portuguesas a fazer da escrita o seu ofício. Órfã de pai desde a infância, começou cedo a contribuir para o sustento da família dando aulas particulares de instrução primária e de francês. Iniciou a sua carreira literária em 1867, com a comédia (imitação) O Século XVIII e o Século XIX, que foi representada no Teatro D. Maria II, e, dois anos depois, com o romance Uma Alma de Mulher, prefaciado por Júlio de César Machado. Colaborou assiduamente na imprensa periódica, advogando a emancipação intelectual da mulher. Em 1871, fundou — e dirigiu até morrer — aquela que seria uma das suas publicações de maior sucesso: o Almanaque das Senhoras.
Prolixa como poucos, para além de dramas, comédias e romances, Guiomar Torresão publicou também contos, poesia, crónicas, críticas literárias e teatrais, e traduções de diversos textos de autores estrangeiros. Graças a esse trabalho, assim como à sua inteligência e força de vontade, conquistou o respeito de escritores como Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano e Fialho de Almeida. Foi a única mulher a integrar o grupo de 242 sócios fundadores da Associação dos Jornalistas e Escritores Portugueses, instituída a 10 de Junho de 1880. Apesar disso, teve de lutar constantemente contra o preconceito de uma sociedade conservadora que censurava e cobria de escárnio qualquer mulher que tentasse escapar à esfera doméstica.
«A Trilogia de João Fernandes», publicado originalmente na Ilustração Portuguesa, em 1885, foi um dos textos seleccionados para a antologia Vozes Femininas. Neste tríptico, Guiomar Torresão trata a credulidade masculina com humor e ironia, no estilo extravagante que lhe é característico e que a destacou das demais escritoras da sua geração.