Seminário Queirosiano 2014
No presente curso procurar-se-á ponderar sobre o género da biografia, seja na dimensão da representação de vidas de personalidades mais ou menos famosas ou exemplares, seja na dimensão da ficcionalização ou até pura invenção. Curiosamente, o género de biografia e, mais interessante ainda, o da hagiografia é um denominador comum dos dois escritores que, à primeira vista, não parecem ter nada em comum. Eça desde cedo integra o discurso biográfico ou necrológico na sua escrita, vidas de poetas e políticos ou até de gatos, finge o grande Carlos Fradique Mendes, já com o objetivo de (re)inventar vidas contra a decadência, cingindo-se, finalmente, à (re-)escrita de Vidas de Santos. Na obra de Teixeira de Pascoaes, S. Paulo (1934) representa a primeira e, sem a menor dúvida, a mais conhecida das suas biografias romanceadas que igualmente procuraram dar respostas perante um estado social e político considerado decadente.
Há 50 anos, Jorge de Sena era um dos poucos que fez a contextualização comum de Eça e Pascoaes, ao escrever que
A Europa em que Teixeira de Pascoaes nasceu em 1877 é a que (…) consegue um equilíbrio competitivo das classes dirigentes aristocrático-burguesas, igualmente irmanadas numa civilização elegante e colonialista, que será, até à Guerra Mundial de 1914-18, a Belle Époque. (…) É a Europa que Eça de Queirós, que morre em 1900 quando Teixeira de Pascoaes atingiu já a sua personalidade original, considera com certa ironia, (…). À região nortenha e serrana em que Pascoaes nasceu e onde passou a meninice, tudo isso chegava com atraso, pelos jornais, em raros livros, e coado pelas perspetivas da grande cidade mais próxima que era o Porto (…).
Discutir o género da biografia neste contexto significa também revisitar questões de cosmopolitismo e provincianismo da vida intelectual de um país chamado semi-periférico no âmbito da Europa que Eça já em 1888 considerava «em crise».
O seminário realizar-se-á de 14 a 18 de Junho, com coordenação do Prof. Orlando Grossegesse (CEHUM / ILCH – Universidade do Minho). Para mais informações, assim como o respectivo formulário de inscrição, podem visitar a página da Fundação Eça de Queiroz.
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