Porquê ler os clássicos da literatura portuguesa?
Os clássicos correspondem a obras que necessariamente abordam questões intemporais e em que, na maior parte dos casos, a estrutura narrativa e a linguagem têm uma qualidade excepcional. Ler os clássicos constitui assim uma forma de aprofundar o conhecimento pela natureza humana e pela própria história da humanidade.
A definição de clássico está longe de ser consensual. Afinal, o que torna uma obra literária um clássico?
A resposta a essa questão foi dada na pergunta anterior, não deixando, no entanto de ser um mistério porque é que às vezes certas obras sobrevivem ao tempo e outras não.
Eça e Pessoa continuam a ser bastante lidos, mas nem todos tiveram tal sorte. Que autor português considera que foi imerecidamente votado ao esquecimento?
Apesar de serem mais recentes, Ferreira de Castro e Aquilino Ribeiro.
«Prognósticos só no final do jogo», mas que obra contemporânea lhe parece capaz de vencer o teste do tempo e vir a integrar o cânone literário português?
Sem sombra de dúvida, José Saramago e o seu Memorial do Convento.
O advento dos eBooks veio dar novo fôlego a certos autores, no entanto a opinião acerca do seu impacto nos nossos hábitos de leitura está longe de ser consensual. Como vê o futuro do livro num ambiente predominantemente digital?
Depois de um período em que os eBooks tiveram uma grande sucesso nos países europeus, a sua popularidade começou a decair. Está estudado que não é a mesma coisa a forma de leitura num suporte informático e num suporte de papel. A mancha gráfica no papel, o virar das páginas e o próprio cheiro dos livros tornam a leitura em suporte de papel mais gratificante, independentemente das vantagens económicas dos eBooks. Talvez por isso, não me parece que os livros em papel venham a acabar.
Ana Cristina Silva nasceu em Lisboa e é docente universitária no ISPA-IU.
Doutorada em Psicologia da Educação, especializou-se na área da aprendizagem da leitura e da escrita, desenvolvendo investigação neste domínio com obra científica publicada em Portugal e no estrangeiro. Publicou até ao momento dez romances: «Mariana, Todas as Cartas» (2002), «A Mulher Transparente» (2003), «Bela» (2005), «À Meia-luz» (2006), «As Fogueiras da Inquisição» (2008), «A Dama Negra da Ilha dos Escravos» (2009), «Crónica do Rei-Poeta Al-Mu’Tamid» (2010), «Cartas Vermelhas» (2011, selecionado como Livro do Ano pelo jornal Expresso e finalista do Prémio Literário Fernando Namora), «O Rei do Monte Brasil» (2012, finalista do Prémio SPA/RTP e do Prémio Literário Fernando Namora, e vencedor do prémio Urbano Tavares Rodrigues) e «A Segunda Morte de Anna Karénina» (2013).
Quando apareceram as esferográficas BIC e nós aprendiamos a escrever com uma caneta de madeira com um aparo amovível molhado no tinteiro de louça da secretária da escola primária , ou quando no liceu se faziam desenhos geométricos com tiralinhas e compassos com tinta da china que ao menor descuido arruinavam o trabalho e depois apareceram as canetas r0tring, ou ainda quando se começaram a vender telemóveis que apenas faziam chamadas de voz mas pesavam umas centenas de gramas e tinham antena exterior, pensava-se que aquelas modernices estavam votadas aos museus da ciência e tecnologia. Hoje os jornais são mais lidos na net do que comprados na banca dos jornais ou recebidos gratuitamente nas esquinas.